Trabalhadores africanos e asiáticos no Paraná sob a pressão do capital

 Os trabalhadores africanos e asiáticos terceirizados para o abate Halal* na Sadia de Dois Vizinhos (PR) terão direitos cortados: vale transporte, vale refeição, alojamento. Com isto, a maior parte destes trabalhadores será obrigada a pedir demissão, já que o salário que receberão não será suficiente para se manter no Brasil e enviar algum dinheiro para sustentar a família (mulher e filhos) que continuam no exterior.

Aqueles mais antigos no trabalho serão demitidos. Essa prática é freqüentemente adotada pela empresa, pois permite contratar trabalhadores novos por salários mais baixos. Ao mesmo tempo, a demissão após cerca de quatro anos de trabalho contribui para ocultar o adoecimento, que no setor de frigoríficos é sete vezes superior a média de outros setores, de acordo com o Ministério Público, conforme retratado no filme "Carne Osso".


A situação destes trabalhadores não é conhecida no município. Sofrem preconceitos e agora estão nesta condição (corte de benefícios e desemprego). Em janeiro de 2012, a BBC produziu ampla reportagem investigativa sobre o assunto, entrevistando trabalhadores do município e de Francisco Beltrão, mas a denúncia não repercutiu na imprensa local, embora tenha sido divulgada em jornais do mundo todo.

Com a chegada de novos trabalhadores estrangeiros refugiados (asiáticos e africanos, além de haitianos, dentre os últimos também há muçulmanos, que se habilitariam para o abate Halal), em situação ainda pior, a empresa aproveita a oportunidade para demitir os mais antigos e contratar os mais novos, que se sujeitam a trabalhar por menos. Empresas de Pato Branco e Francisco Beltrão, localizados na mesma região, estão buscando haitianos para trabalhar em frigoríficos, indústria de fogões, construção civil e até mesmo no trabalho agrícola. O diretor regional da Federação das Indústrias do Paraná afirmou que esta será uma política da Fiep.

Trata-se também de um problema enfrentado pelos imigrantes no mundo todo, que se sujeitam aos piores trabalhos e piores salários pelo fato de, na maioria das vezes, se encontrarem ilegais, endividados, não falarem a língua oficial do país, sofrer preconceitos raciais. É a situação enfrentada pelos latinoamericanos na Europa e nos Estados Unidos, mas é a situação também de africanos, asiáticos e haitianos no Sudoeste e em Dois Vizinhos. Daí resultam vários problemas e muitas vezes a população local se coloca contra estes imigrantes, particularmente em situações de falta de emprego.

Esse tipo de desdobramento não é nada recente, teve um certo sujeito na história que aproveitou a situação para convocar os alemães contra os judeus.

Em Dois Vizinhos, um grupo de trabalhadores de diversos setores, além de estudantes, estão realizando atividades de solidariedade aos companheiros que sofrem essa situação, pois as fronteiras foram feitas para nos dividir, mas a classe nos une.

O abate Halal pode ser realizado exclusivamente por muçulmanos e segue um ritual religioso próprio, condição colocada pelos importadores para onde se destina a quase totalidade da produção do frigorífico de Dois Vizinhos.