No dia 16 de março de 1990, um dia após a posse de Collor, o traumático plano foi anunciado. O Brasil sofria por vários anos com a hiperinflação: em 1989, um ano antes da posse, a média mensal da inflação era de 28,94%. Por meio de uma Medida Provisória, Collor e sua então ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Mello, anunciavam o bloqueio da poupança e todas as aplicações financeiras da época acima de NCZ$ 50 mil (cruzados novos) – o equivalente hoje a R$ 6.000.
A população reagiu com perplexidade, especialmente às medidas de bloqueio do dinheiro. A partir dali longas filas se formaram nos bancos, que não tinham dinheiro suficiente para cobrir os saques. A proposta prévia um enxugamento dos gastos públicos, entretanto, o governo mais uma vez em nossa história foi incapaz de reduzir suas despesas. Seriam congelados por 18 meses, com a promessa que seriam reajustados e devolvidos.
Na época, o país mergulhou na hiperinflação: em março, o índice de preços chegava a 82%. O valor dos produtos quase dobrava de um mês para o outro. Naquele ano a inflação alcançou incríveis 1.620% no acumulado. O resultado desse processo foram perdas históricas que jamais seriam repostos em sua totalidade nas cadernetas de poupança.
O que você acha de trabalhar praticamente meio século para receber um salário mínimo?
Mas o trauma que passamos naquela época ainda é uma cicatriz permanente em nossa memória. O temor pela retirada de conquistas volta a assolar o país a partir do momento em que propõem a nós, que tenhamos que trabalhar praticamente até a morte para se aposentar. E propor a mulher a mesma condição de aposentadoria do homem, sem levar em conta a dupla jornada delas ou arrochar uma viúva que sobreviva com metade da pensão.
E não é só na Previdência! A sua carteira de trabalho também corre risco de ser rasgada diante de seus olhos.
Sabe a sua jornada de trabalho? Ela poderá ser flexibilizada a favor do patrão. Salário, 13º, férias, FGTS? Nada será tão garantido assim se as Reformas forem aprovadas. E o pior, o ataque governamental tem um forte aliado, os grandes meios de comunicação que financiam e levam a população a informação que a previdência está quebrada e que somente com fracionamento da CLT o país poderá voltar a crescer.
E aí, acha que estamos livres do trauma do confisco? Lembre-se, Collor hoje é senador…
Sobre o confisco:
A medida executada pelo governo Collor que ficou conhecida como confisco tem origem num consenso entre os candidatos à presidência da época: Fernando Collor de Mello, Ulisses Guimarães e Luís Inácio ‘Lula’ da Silva. O confisco já era um tema em debate entre os candidatos à eleição presidencial: a gênese do Plano Collor, começou a ser formulada a partir do final de dezembro de 1989, depois da vitória no segundo turno.