Por que os argentinos foram às ruas gritando “isso aqui não é o Brasil”.
Brasil e Argentina são como dois irmãos, unidos pelo laço de sangue do DNA geográfico, e ao mesmo tempo separados pelas diferenças, históricas, culturais, sociais e políticas.
Os argentinos saíram às ruas para protestar contra a lei de Reforma da Previdência do governo de Mauricio Macri que estava por ser votada pela Câmara de Deputados argentina. No meio da repressão generalizada, que transformou o bairro do Congresso em uma praça de guerra, como há muito tempo não se via aqui, o bordão “Isso aqui não é o Brasil” era um dos gritos que se escutava nas ruas.
A Lei Previdenciária de Macri é um enorme pesadelo que está prestes a se tornar realidade. Entre outras aberrações, modifica a fórmula de cálculo do aumento semestral das aposentadorias, provocando uma perda de quase 50% no valor do aumento que os velhinhos argentinos teriam direito agora em dezembro. Volta a indexar o aumento das aposentadorias ao índice oficial de inflação. Essa indexação tinha sido eliminada por uma lei aprovada em 2009 durante o governo de Cristina Kirchner porque é claramente prejudicial para os aposentados.
“Isso aqui não é o Brasil”, gritavam alguns argentinos na manifestação de quinta passada. Não é mesmo. Existem duas diferenças importantes. Buenos Aires não é Brasília. Que a sede do centro de decisão política esteja na cidade mais importante do país, e não num planalto cercado de lagos por todos os lados faz muita diferença. A pressão popular é menor. Brasília não está onde está por acaso.
Contribuição Daniel Oiticica, de Buenos Aires